Adoração/ Louvor/Culto

07/08/2011 17:13

Há um desgaste na nossa sociedade do sentido exato de algumas palavras. Louvor, amor, gospel, adoração...Vocês concordam? Quando estava escrevendo, junto com minha amiga Leila Gusmão, o livro Culto Cristão - contemplação e comunhão, Juerp, 2003  perguntei para alguns amigos o que eles entendiam ou pensavam sobre tal assunto e o Pr Davi Liepkan - que serve ao Senhor em Santa Bárbara do Oeste - respondeu assim:  

“Fiz uma pesquisa há muito tempo (cerca de dez anos), em duas igrejas, sobre o significado da adoração, ou seja "por que adoramos?". As respostas mais comuns  foram "para agradar a Deus" - adora-se como um sacrifício -  "para pregar a Palavra, ou seja, cultua-se para evangelizar e alguns poucos falaram em "comunhão" com Deus ou com os adoradores”. 

Você não acha que o sentido ou conceito de culto tem se perdido tanto,  que muitas vezes fica difícil até saber o que estamos fazendo diante do Poderoso, que nos atraiu com seu amor e que nos chama para uma  koinonia? Koinonia é uma palavra grega, que significa comunhão - muito usada no NT - que significa partilhar, sentir junto).

É  também é aplicada a comunidade, associação, participação. Vem da palavra Koinos, que significa comum, mútuo, público. (Dicionário Internacional de Teologia do Testamento. Colin Brown, Lothar Coenen, 2 ed. SP: Vida Nova, 2000 p 377)

Em 1João 1. 3-7, na BLH, temos uma das facetas da palavra koinonia:

“Contamos a vocês o que vimos e ouvimos para que vocês estejam unidos conosco, assim como nós estamos unidos com o Pai e com Jesus Cristo, o seu Filho. Escrevemos isso para que a nossa alegria seja completa.A mensagem que Cristo nos deu e que anunciamos a vocês é esta: Deus é luz, e não há nele nenhuma escuridão.Portanto, se dizemos que estamos unidos com Deus e ao mesmo tempo vivemos na escuridão, então estamos mentindo com palavras e ações. Porém, se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros, e o sangue de Jesus, o seu Filho, nos limpa de todo pecado”.

Aliás, quando falamos em adoração muitos pensam em louvor, culto no templo, solos, encontros gospel, grandes shows, cantos, muitos cantos... Porque será que confundimos tanto? Será que já paramos para pensar neste Deus que tem a capacidade de se auto doar para nos trazer aos seus braços ou abraços ?  Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, em uma de suas mensagens disse que “... parece que Deus só será exaltado e glorificado se cantarmos bem forte e pelo menos uns 5 cânticos, então muitos poderão crer que cantar (...) seja o que há de mais importante na igreja. Confundimos muito a glória de Deus com nosso senso estético. O que gostamos nem sempre é, necessariamente, o que Deus gosta“.

Mas o que será que Deus “gosta” ? A Bíblia diz em João 4.23 que o Pai procura por verdadeiros adoradores que o adorem  em espírito e em verdade. Louvor então será o resultado da adoração, pois para adorar e louvar e cultuar, o ser humano precisa ser nascido de Deus e este toque só poderá ser dado através do Espírito Santo, pois como adorar o que não conhecemos? É o Santo Espírito, Consolador, Ajudador, Conselheiro que fala ao nosso coração e é por ele que somos convencidos. Ele é que nos convence do pecado e aceitamos o Senhor Jesus e chegamos por Cristo ao Pai. Como adorar? Adorar quem?  Em João 4.22 - “Disse Jesus: Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos.”

 

 

ADORACÃO

Raciocinemos juntos: Pode adorar verdadeiramente o Deus eterno quem não o reconhece como tal? Será possível? Saber adorar é mais que um ato religioso. É um ato espiritual e verdadeiro, seja individual ou em  grupo. É a constatação, o reconhecimento  da grandeza e do poder do Senhor. E tem mais: só poderemos chegar ao trono da graça através do nome do nosso redentor e intercessor que é o Cristo, filho de Deus, pois só  por ele  teremos acesso ao poderoso Deus. Observe o texto em 1Jo 2.1,2: “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo (...) e ele é a propiciação pelos nossos pecados (...) e ainda pelos do mundo inteiro”.

Penso que o que tem acontecido é o desvio na motivação que percebemos em muitos cultos, equivocadamente, desviando nosso olhar da  majestade e do amor irresistível de Deus que nos atrai. Parece ser  fruto, talvez,  de  um consumismo exagerado,  uma agitação sem sentido, um modelo de vida descartável,  que se reflete  na criação de um estilo de vida. Acredito realmente que  quando tudo está confuso é porque perdemos o referencial, ou então nunca soubemos  qual era.

Em muitas ocasiões, percebemos que alguns cultos tem se transformado em momentos de entretenimento, de uma alegria exacerbada, sem sentido e fabricada, à procura de uma catarse coletiva ou qualquer outra coisa, menos  estar ajoelhado diante do Senhor, rasgando seus corações e almas diante de tão grande amor.

Se,  realmente, como Isaías percebemos, ao entrar nos átrios do Senhor a sua grandeza - Is 6.1 e 2 - veremos e sentiremos o Seu  poder e reconheceremos a Sua  santidade e isto não deixará que  fiquemos passivos,  neutros,  desanimados ou esgotados  repetindo somente um rito sem significado.

Na realidade quando somos confrontados com os atributos do Eterno, só temos que reconhecer que somos pequenos demais e indignos de tal alcance. Sim, o  alcance do seu amor. Veja como Isaías  reagiu  no capítulo 6, verso 5: “Ai de mim que sou um homem de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei.”

No  N.T., João traz duas promessas – perdão e purificação -  condicionada a uma ordem para a confissão, além de citar dois atributos de Deus: fiel e justo. ”Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9).

Precisamos ter cuidado para não sermos limitadores da vontade de Deus na vida das  pessoas, impondo sobre elas  regras, maneiras e costumes que consideramos como as mais corretas para adorar, louvar e cultuar.

Precisamos entender como é a nossa comunidade. Eles vivem na zona rural? Em comunidades(favelas, morros)?

Em zona urbana (asfalto)? São professores, profissionais liberais, ou operários?  Adultos, crianças, jovens ou idosos?

Quais as suas características culturais do grupo?  Existem alguns impedimentos de ordem emocional, psicológica?

 O que realmente tem significado para as pessoas da sua região, bairro ou cidade? Como é o entorno da igreja?

Quais valores religiosos, sociais, culturais, quais  interesses comuns pertencem a esta comunidade? Como é  o cotidiano, que sonhos sonham?

Isto irá influenciar muito na forma,  e é importante  que os princípios bíblicos e o conteúdo que caminham juntos sejam doutrinariamente corretos, quer dizer de acordo com a fé denominacional que estes cultos refletirão. Muitos problemas surgem – desnecessariamente - inclusive sobre as diferentes formas ou estilos musicais nos cultos, mas creio que a liderança - pastor, ministro de música e outros grupos designados para esta tarefa – encontrarão caminhos certos e viáveis para o encontro desta comunidade com o seu Senhor, estabelecendo modelos próprios. Para tal, seria bom sabermos  o significado da palavra adorar, na Palavra de Deus.

Adorar é:

1. CURVAR-SE, PROSTRAR-SE.

No Antigo Testamento encontramos a palavra no hebraico HISAHAWAH (schachah) em reverência e prostração. Veja no texto de Gn 24.52  - “Tendo ouvido o servo de Abraão tais palavras, prostrou-se em terra diante do Senhor.

Você poderá perceber em outras passagens o mesmo termo sendo usado e com o sentido acima mencionado. Leia também 2Cr 29.29; 2Cr 7.3 e perceba o sentido de curvar-se com o sentido de prostrar-se diante da  majestade e grandeza do soberano  Deus.

Proskyneõ (Proskuneim) é o termo em grego que aparece no  Novo Testamento especificamente aplicado para Deus e não para os governantes,   com o  sentido de humildade, submissão, reverência e prostração. Vejam em Ap 22.8 e 9 e Ap19.10, na  BLH(Bíblia na linguagem de hoje) dizendo  que não devemos adorar nem anjos e nem apóstolos:     

”Eu, João, ouvi e vi todas essas coisas. E, quando acabei de ouvir e ver, caí de joelhos aos pés do anjo que me mostrou essas coisas e ia adorá-lo. Mas ele me disse: – Não faça isso! Pois eu sou servo de Deus, assim como são você e os seus irmãos, os profetas, e todos os que obedecem às palavras deste livro. Adore a Deus!” Ap 22.8 e 9

“Em Ap19.10 diz: “Aí eu me ajoelhei aos pés do anjo para adorá-lo, mas ele me  disse: – Não faça isso! Pois eu sou servo de Deus, assim como são você e os seus   irmãos e irmãs que continuam fiéis à verdade revelada por Jesus. Adore a Deus! Pois a mensagem que o Espírito entrega aos profetas é a verdade revelada por Jesus.”

Infelizmente muitos param por aqui,  sem atentar para a segunda parte do sentido da palavra adoração, que  é o posicionamento que todos devemos ter diante do curvar-se em atitude de humildade e reverência ao Senhor Deus, que é servir  ao Trino Deus, andando em amor.É o nosso amor em ação.

2 . SERVIÇO

Em hebraico, no AT temos   abodâh/ebed  que corresponde tanto no AT como no NT à relação entre o homem e o seu Deus em verdadeira submissão, servindo ao Senhor por vontade própria. Leia  Êx 21.1-6;

No N.T.  aparece no grego como latréia, significando  serviço de ajuda aos outros - um homem prestando ajuda a outro. Leia em Rm 1.9,12,15; 13.6; 15.16.

O que isto pode acrescentar de novidade para a nossa vida? Verifique como anda o seu relacionamento horizontal, isto é com o seu próximo. Muitos esquecem desta dimensão que existe na adoração, fixando seu olhar apenas na direção vertical, que é   de contemplação. Nossa visão de Deus precisa nos impulsionar na tomada de atitude de ir  em   direção do outro, do meu irmão, servindo ao Senhor. Em  1Jo 2.10 e 11 temos: “ Se, porém, andarmos na luz, como Ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Como você tem agido?

 Como posso dizer que amo a Deus? João diz que quem diz que está na luz mas odeia a seu irmão, este continua ainda nas  trevas, na escuridão e não vive na luz, por isto errando o caminho ou alvo para as nossas vidas, pois estamos sem luz. Isto significa, que não adiantou falar tudo isto  até agora, se não temos Cristo, que é a luz do mundo e não amamos também o nosso irmão.

LOUVAR

Agora,  louvar é tudo que você faz. É o resultado da constatação, do reconhecimento dos atributos de Deus – digno, único, onipotente, onipresente, onisciente, triúno, verdadeiro, justo, benigno, misericordioso...  – agindo em direção ao outro em nome do Senhor. Louvar não é só cantar não. E no hebraico, a língua usada no VT existem  várias palavras que traduzidas por louvor são usadas  sempre independentemente  do significado real.

São elas. Yâdâ   – substantivo – que pode ser confessar(credo) , louvar, dar  graças.  Rûn é exaltar; Zâmar, louvar com instrumentos; zâkar é lembrar; kâbed, glorificar. Tôdâ é confissão, confissão de pecados, louvor, ação  de graças, oferta de gratidão e sacrificio de louvor( que em Ne 12.8 significa ação de graças). Só por isto podemos perceber que  louvor é a nossa adoração em ação: ação de graças, confissão de pecados, confissão de fé e tudo isso pode ser feito em silêncio, lendo ou recitando a Palavra, orando, testemunhando. Louvor é a nossa  adoração em ação.  

Bem... mas ....  e Culto?

CULTO

Culto é na realidade o encontro do homem com Deus! É celebração, é mistério -  como pode um Deus, tão poderoso importar-se com cada um de nós? -  é diálogo, é oferta, é relacionamento vivo e experiência transformadora.

O que é culto para você? Como você tem se sentido na presença do Senhor?

CONSULTE OUTROS AUTORES SOBRE ESTE ASSUNTO

1. AMORESE, Rubens Martins. Celebração do evangelho. São Paulo: Editora Abba. .

2. BAGGIO, Sandro. Revolução na música gospel: um avivamento musical em nossos dias. São Paulo: Êxodus, 1997. 196p.

3. BASDEN, Paul. Estilos de louvor. São Paulo: Mundo Cristão, 2000. 190p.

4. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Rio de Janeiro: Vozes; São Paulo: Simpósio editora e UMESP, 1997. 504p.

5. CORNWALL, Judson. Adoração como Jesus ensinou. Minas Gerais: Betânia,1995.190 p

6. MARASCHIN, Jaci. A beleza da santidade, ensaios de liturgia. São Paulo: ASTE, 1996. 167p.

7. MC COMMON, Paul. A música na Bíblia. Rio de Janeiro:JUERP, 1963. 147p.

*artigo publicado (com revisões) na revista Atitude, da JUMOC em 2005

Westh Ney Rodrigues Luz